Azul se movimenta para comprar Gol durante sua reestruturação judicial

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A empresa tem chance de ter sucesso? Será que o governo deve gostar disso? 


Hangar de manutenção da companhia Azul Linhas Aéreas, (Kaio Lakaio/VEJA) 


A Azul avalia fazer uma proposta para comprar as operações da Gol, atualmente em recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11). Segundos fontes, a aérea contratou o escritório Guggenheim Partners e o banco Citi para montar uma estratégia de compra.


Mas por que a Azul avançou com essa investida durante a reestruturação da concorrente? A empresa tem chance de ter sucesso? Será que o governo deve gostar disso?


Veja abaixo alguns dos princípios tópicos para ajudar a entender a mais nova turbulência no setor aéreo brasileiro.


Consolidação


As consolidações são apontadas frequentemente como uma saída para a crise de aéreas ao redor do mundo. O tema ganhou muita força depois da pandemia, em que muitos players, sem dinheiro para tocar o negócio, foram abocanhados por concorrentes — que ficaram maiores e mais fortes.


A Azul sempre demonstrou interesse em avançar com uma consolidação no mercado brasileiro. A empresa chegou a travar uma briga com Latam e Gol para comprar a falida Avianca Brasil, mas teve seus planos boicotados. Irritada, a aérea saiu da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).


Segunda tentativa


Essa não é a primeira vez que a Azul tenta abordar uma concorrente durante sua recuperação. No “Chapter 11” da Latam, entre 2020 e 2022, a Azul protagonizou uma disputa pública pela Latam Brasil e até todo o grupo ao fazer proposta aos credores da empresa chilena.


Na proposta pela Latam, a Azul chegou a oferecer em novembro de 2021 cerca de US$ 5 bilhões em financiamento, que era apoiada por alguns credores da Latam.


No fim, a Latam conseguiu aprovar um plano de reestruturação que trouxe uma injeção de US$ 8,19 bilhões.


Na época, sem sucesso na aproximação com a Latam, a Azul chegou a insinuar até que tentaria um movimento contra a Gol, mas ele sempre foi evitado pela concorrente.


Por que durante o “Chapter 11”?


Durante o processo de recuperação na lei americana, o credor é quem vai ter papel central na definição do futuro da empresa. Desta forma, é ele que vai aprovar empréstimos, estratégias e, em último caso, propostas de fusão ou aquisição.


Já a entrada em “Chapter 11” — e não um processo no Brasil — é diante do fato de parte significativa dos credores (majoritariamente arrendadores) estão fora do país. O processo lá, além disso, tem regras mais consolidadas e bastante celeridade.


Deve vingar?


É difícil cravar. De um lado, fontes destacam que debaixo da holding Abra os acionistas podem ser mais propensos a negociar.


De outro, especialistas destacaram que a Abra fez um bom trabalho junto aos credores. A Gol tem hoje o apoio de “bondholders” da Abra, que chancelaram o empréstimo (na modalidade DIP) dentro do “Chapter 11” de US$ 1 bilhão concedido à aérea. Em negociações, a Gol conseguiu retirar todas as objeções ao empréstimo, mostrando um bom trânsito com os credores — os mesmos que avaliariam eventual proposta da Azul.


Quais os prazos?


Fontes destacaram que o processo ainda está no início e que a própria Azul ainda estuda as nuances jurídicas para conseguir avançar com uma aquisição dentro do “Chapter 11”.


A proposta da Azul deve ganhar corpo durante a formulação do empréstimo de saída do processo da Gol (chamado de “exit financing”) – a visão e de que ele avance para o segundo semestre. Neste período, há chance de haver uma disputa para a composição deste empréstimo, uma vez que é ele que vai definir a composição acionária da empresa após o “Chapter 11”.


Na Latam, os principais acionistas antes do “Chapter 11” eram a família Cueto, a Qatar Airways e a Delta Air Lines, que detinham cerca de 46% do capital e foram diluídos para uma participação de 25%.


Hoje, a Abra, holding que controla também a Avianca, detém de cerca de 53% da Gol.


E o que o consumidor tem a ver com isso?


Em janeiro, o mercado doméstico foi liderado pela Latam, com 36,7%, seguida pela Gol com 34,1% e a Azul, com 28,7%. Os dados são da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Tirar um player relevante do mercado pode comprometer o ambiente concorrencial, fundamental na manutenção de baixas tarifas.


Foi a disputa ferrenha entre Latam e Gol que levaram as tarifas aéreas aos menores patamares na história. Foi essa disputa, possível após a abertura do mercado em 2002 (antes a passagem aérea era tabelada), que levou o yield médio (o preço pago pelo passageiro para se voar um km) a cair 31,23% em dezembro de 2015 contra igual mês de 2012, para R$ 0,4812.



Foto: Leonardo Carrato/Bloomberg



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PUBLICADA EM: 08/03/2024 09:37:32 | VOLTAR PARA: Artigos | OUTRAS PUBLICAÇÕES
Fonte: Economia Valor



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